O relatório ‘Global Electric Vehicles Outlook’ da Agência Internacional de Energia (publicado em Maio de 2018), indica que em 2017 já existiam a circular no mundo mais de 3 milhões de veículos eléctricos (VE). A mesma fonte apresenta cenários em que o número de veículos ligeiros eléctricos irá atingir os 125 milhões, em 2030. No caso de serem estabelecidas políticas mais ambiciosas para atingir os compromissos assumidos no que diz respeito aos acordos climáticos e de sustentabilidade, este número poderá subir para as 220 milhões de unidades.
Estudos desenvolvidos pela McKinsey Energy Insights (2017) são ainda mais optimistas e apontam que, em 2030, existirão 290 milhões de VE, o que representará 18% da frota mundial (sendo que 12% serão totalmente eléctricos e os restantes 6% serão híbridos).
No mercado da União Europeia (PwC, 2016 publicado pela FUCHS, 2017), em 2030 o mercado de VE de passageiros e camiões ligeiros será composto por 36,5% de VE, 37,4% de híbridos e apenas 26,1% por veículos com combustão interna (VCI, em 2016 representavam 98,9%).
Figura 1 – Evolução do mercado de veículos de passageiros e camiões ligeiros na União Europeia
(Fonte: Price waterhouse Coopers, 2016, publicado por FUCHS, 2017)
A mobilidade eléctrica é, assim, cada vez mais uma realidade a nível global e Portugal não foge a esta tendência. No último mês de 2018, segundo a associação de Utilizadores de Veículos Eléctricos (UVE), foram comercializados 727 VE, o que representa um crescimento de 30% face ao período homólogo de 2017.
No total, os dados da UVE (e divulgados pelo Jornal de Negócios) mostram que o ano passado foram vendidos 8.241 VE, o que representa um crescimento de 94,5% em relação a 2017, colocando a quota de VE nos 3,6%. Considerando já as vendas de Janeiro de 2019, o parque eléctrico nacional é composto por mais de 25.000 VE que incluem motociclos, ciclomotores, quadriciclos, entre outros.
Para Henrique Sánchez, presidente do conselho directivo da UVE, as expectativas são de crescimento visto que existe cada vez mais informação disponível e acessível sobre o que é a mobilidade eléctrica, as marcas vão lançar novos modelos com mais autonomia, mais económicos e tecnologicamente mais avançados. Também o alargamento da Rede Pública de Carregamento pelo território nacional e os vários eventos de promoção dos VE permitem ver com optimismo o futuro dos VE em Portugal.
Mas que impacto terá a mobilidade elétrica no mercado dos óleos lubrificantes?
Segundo a McKinsey Energy Insights, em 2015, 52% da procura mundial de óleos lubrificantes, que totalizou 9,9 milhões de toneladas, proveio da indústria automóvel. Isto significa que qualquer alteração no mercado com o aumento dos VE pode levar a mudanças significativas no mercado de óleos lubrificantes.
Como os VE não possuem motor de combustão interna, estes não precisam de óleos de lubrificação para o motor, usando apenas uma pequena quantidade de massa lubrificante (grease) e outros produtos secundários. Já os veículos híbridos (que possuem tanto o motor de combustão interna como baterias eléctricas) necessitam de lubrificação para o motor. Em comparação com os VCI, os híbridos carecem de mais lubrificantes com melhor desempenho, o que representa um novo e valioso mercado (McKinsey Energy Insights, 2017).
No gráfico seguinte é apresentada a variação prevista para o consumo de lubrificante (em kg/veículo) considerando a variação que o mercado irá sofrer em termos de composição de frota de veículos ligeiros. É possível observar que o aumento previsto do número de veículos ligeiros eléctricos e híbridos levará a uma redução do consumo de lubrificante por veículo.
Figura 2 – Consumo médio de lubrificante por veículo ligeiro (Fonte: McKinsey Energy Insights, 2017)
Segundo a FUCHS (2017), este aumento do número de VE, irá ter como consequências para o mercado dos óleos lubrificantes:
- Redução significativa da procura de óleos de motor e de óleo para transmissão, com a substituição de VCI por VE
- Procura de massas lubrificantes (greases) precisa de ser analisada dado que algumas aplicações irão crescer em volume e surgirão outras aplicações que será necessário dar resposta
- Redução do uso de óleos na indústria metalúrgica
- A tendência dos veículos serem cada vez mais leves (com menos aço e mais alumínio, termoplásticos e fibras de carbono) levará a uma redução na procura de lubrificantes e anti-corrosivos
Dados apresentados para a Alemanha, para o período 2017 – 2027, prevêem uma redução de 11% na procura de óleos de motor, 17% nos óleos de transmissão e 26% na indústria metalúrgica. Para o mesmo período de análise, a Europa deverá registar um decréscimo entre 8 a 10%, os Estados Unidos da América um decréscimo de 20%, ao passo que se prevê que o consumo na China aumente entre 15 a 20%. Em termos globais, estas previsões levarão a uma redução de 450 a 800 mil toneladas (FUCHS, 2017). Após 2030 prevê-se que o impacto no mercado de óleos lubrificantes seja ainda superior (McKinsey Energy Insights, 2017).
Todos estes desenvolvimentos obrigarão os fabricantes a prepararem-se para um novo mundo de lubrificantes e novas tecnologias. Será necessário encontrar novas soluções especialmente em conformidade com determinadas características dos VE, tais como (Lubricant World, 2018): campo electromagnético; materiais de isolamento; velocidade e calor do motor para os óleos de transmissão; massas lubrificantes e líquidos de refrigeração que irão estar em contacto com os módulos eléctricos, sensores e circuitos dos VE. Relativamente aos líquidos de refrigeração deverá ser dado especial importância na tentativa de encontrar soluções num futuro próximo que permitam um carregamento mais rápido e um aumento da velocidade, melhorando os níveis de segurança (CNBC, 2019).