Em Portugal, os óleos lubrificantes têm um ciclo de vida que configura um bom exemplo do que é a economia circular. De facto, se excluirmos o consumo normal e os produtos de lubrificação perdida, o SIGOU, gerido pela SOGILUB, recupera uma percentagem muito elevada dos óleos lubrificantes usados que encaminha para reciclagem ou, em maior percentagem, para a regeneração.
Reciclar significa utilizar o produto/resíduo numa aplicação menos exigente em termos de lubrificação.
Na regeneração produzem-se produtos que vão servir de óleos base, para o fabrico de lubrificantes novos com características iguais às dos óleos base virgens, e para sua substituição, o que configura uma verdadeira economia circular; o produto circula na economia reduzindo o consumo de matéria-prima virgem, mas, sobretudo, elimina-se o resíduo.
Quando falamos de resíduos e na forma de os eliminar sabemos que a melhor solução é evitar a sua formação, sendo este raciocínio também válido para os óleos lubrificantes.
Diminuir a quantidade de resíduo de um óleo lubrificante é, por exemplo, prolongar ao máximo a sua vida útil. Muito tem sido feito pela investigação dos produtores de lubrificantes, acompanhando as exigências dos desenvolvimentos dos OEM – fabricantes de equipamentos originais – proporcionando tecnologias que permitem esses mesmos avanços tecnológicos.
Um bom exemplo é dado pelos produtos lubrificantes destinados ao mercado automóvel que representam cerca de 70% do mercado de lubrificantes em Portugal e cerca de 50% do mercado mundial de lubrificantes.
O mercado automóvel é muito pressionado pela exigência de disponibilidade dos veículos, que se traduz numa tendência constante de alargamento dos prazos de manutenção periódica, o que significa a necessidade de utilizar produtos lubrificantes com uma maior vida útil. As especificações gerais, emitidas quer pelo API – Instituto Americano do Petróleo, quer pela ACEA – Associação dos Fabricantes Europeus de Automóveis, têm apoiado essa tendência, que a par das exigências quanto à redução de emissões, tem conduzido a um enorme aumento da sofisticação dos lubrificantes de motor atualmente comercializados.
Atualmente são comuns periodicidades de mudança de óleos de motor de 120 – 150 mil quilómetros em motores modernos de veículos pesados, aprovadas e recomendadas pelos fabricantes, que refletem em especificações próprias as exigências técnicas a que devem obedecer os lubrificantes, para assegurarem a fiabilidade e a garantia dos seus equipamentos perante tamanho desafio.
De igual modo, são normais as indicações de mudança de óleos de motor de veículos ligeiros aos 20 – 30 mil quilómetros, o que era impensável à quarenta anos atrás; nos anos 80, a periodicidade média de mudança recomendada era cerca de 5.000 a 7.500 km, para os motores de automóveis ligeiros, e uns fantásticos 15 a 20 mil quilómetros para os motores de veículos pesados em serviço de longo curso.
Naturalmente a qualidade dos óleos lubrificantes não para de aumentar, o que se traduz na necessidade de formulações contendo óleos base cada vez mais resistentes, a que se adicionam pacotes de aditivos muito complexos e sofisticados. Muitas das atuais especificações de topo só conseguem ser atingidas mediante a utilização dos chamados óleos base sintéticos, desenhados e produzidos para responder aos mais altos desafios de rendimento, nomeadamente, para resistir à oxidação e assegurar a extensão da vida útil dos lubrificantes.
A evolução das tecnologias e da qualidade das massas lubrificantes também permite, por exemplo, que os veículos ligeiros atuais estejam isentos de pontos de lubrificação regular, sendo lubrificados aquando do fabrico e para a vida, o que praticamente anula a produção de resíduos destes produtos.
Quanto ao mercado Industrial de lubrificantes, que representa cerca de 30% em Portugal e aproximadamente 50% do mercado global, o foco está no controlo das cargas de lubrificantes em serviço através de sofisticados programas de análises que fornecem indicadores preciosos sobre a evolução do desgaste dos equipamentos e a reserva de qualidade do produto, assegurando-se uma periodicidade de mudança otimizada e de acordo com a manutenção condicionada dos equipamentos. De assinalar também que, para grandes volumes em serviço, como no caso de grandes sistemas hidráulicos e de circulação, existem, por exemplo, sistemas de centrifugação e/ou filtragem de malha muito apertada, que funcionando em paralelo permitem retirar contaminantes do seio dos lubrificantes, por exemplo lamas ou água, que podem condenar a prazo a operacionalidade da carga.
Os lubrificantes sintéticos também têm grande aplicação em ambiente industrial. Não só permitem a operação em condições extremas de temperatura, como asseguram muito elevadas periodicidades de mudança, graças à manutenção da estabilidade estrutural do produto e à sua reduzida degradação em serviço, nalguns casos proporcionando apreciáveis economias de energia na operação dos equipamentos onde são utilizados.
De notar que já existem inúmeros equipamentos industriais que são lubrificados “para a vida”, i.e., o fabricante não prevê qualquer mudança do lubrificante até que se dê a falha do equipamento, o que pode significar muitos anos de operação sem problemas e sem qualquer intervenção de lubrificação.
Quando estiver a comprar produtos lubrificantes siga sempre as recomendações dos fabricantes. Se tiver de escolher, prefira os produtos que lhe asseguram uma maior vida útil. Se encontrar lubrificantes que sejam formulados com óleos base regenerados não hesite; reduzir o consumo de recursos naturais através de uma economia circular é forma mais eficiente de preservação do ambiente.