Em foco: A sustentabilidade da cadeia de valor dos óleos lubrificantes

A sustentabilidade, sobretudo a nível ambiental, é um tema que tem proliferado nas cadeias de valor de inúmeros produtos, quer por questões intrínsecas dos próprios setores, quer por questões externas relacionadas com os consumidores finais e outros intervenientes da cadeia de valor, que cada vez mais têm moldado as tendências de consumo, procurando integrar a sustentabilidade no seio dos princípios associados ao consumo [1]. Os óleos lubrificantes não são exceção, ainda mais, considerando a conotação negativa associada às tradicionais fontes de matéria-prima e a perigosidade para o ambiente e saúde humana decorrente da incorreta utilização dos óleos lubrificantes e do seu descarte indevido quando estes se tornam resíduos.

A cadeia de valor dos óleos lubrificantes compreende as seguintes etapas, desde a extração da matéria-prima, que inclui petróleo e outros produtos químicos e aditivos, até ao descarte dos óleos.

A sustentabilidade pode assumir diversas formas ao longo das várias etapas da cadeia de valor, passando por tópicos de natureza ambiental, social e económica. No que se refere à componente ambiental, uma das etapas com maior impacte é a de obtenção da matéria-prima, incluindo a extração e refinação do petróleo, as quais integram também as cadeias de valor de muitos outros produtos, como plásticos e combustíveis, estando por isso sujeitas a outros fatores de influência (como o aumento da pegada de carbono do setor devido ao elevado número de emissões resultantes do processo de extração do petróleo, ao potencial de destruição de habitats e poluição da água e do solo), que podem comprometer a sustentabilidade do setor dos óleos lubrificantes.

Ao nível da produção de óleos lubrificantes são várias as tendências que têm surgido no sentido de desenvolver alternativas com menor impacte para o ambiente e graus de reciclabilidade mais elevados, como é o caso dos biolubrificantes. Feitos a partir de fontes renováveis, como óleos derivados de plantas, os biolubrificantes, também conhecidos como lubrificantes “verdes”, possuem importantes características para a melhoria da performance ambiental dos óleos lubrificantes, como a biodegradabilidade e menores níveis de toxicidade quando comparados com os óleos tradicionais [2]. Em particular, a biodegradabilidade é uma das características mais importantes para a determinação do potencial de impacte ambiental, a qual pode ser testada através de testes à biodegradabilidade aeróbia, testes ao potencial de biodegradabilidade em condições aeróbias ótimas e testes à biodegradabilidade anaeróbia [3].

Mais recentemente, surgiram os lubrificantes neutros em carbono, sendo esta designação atribuída pelo facto de estes lubrificantes serem produzidos com recurso a fontes materiais renováveis, como materiais biológicos ou resíduos de óleos lubrificantes derivados de plantas, fazendo com que as emissões geradas durante a sua produção sejam compensadas pelo dióxido de carbono absorvido pelas plantas [2].

Adicionalmente, o desenvolvimento destas alternativas de produtos são uma mais-valia no sentido da transformação da cadeia de valor dos óleos lubrificantes, ao permitir a dissociação dos impactes relativos à extração de petróleo.

Na fase de utilização dos óleos, os biolubrificantes têm o potencial de ser formulados para um menor coeficiente de fricção, promovendo poupanças de energia e menores emissões de gases com efeito de estufa ao longo da vida útil do equipamento onde são aplicados [2]. Nesta fase, é importante garantir a implementação de ações de sensibilização e educação dos consumidores, para promover a correta seleção e utilização dos produtos, assim como a adoção de boas práticas de descarte dos óleos lubrificantes usados.

No final da cadeia, a constante melhoria dos processos de gestão dos resíduos é crucial, incluindo o desenvolvimento de processos de recolha e tratamento mais eficientes. Especificamente no que se refere ao tratamento, a reciclagem é uma área para o qual os trabalhos de investigação e desenvolvimento têm grande relevância, procurando a integração de novas tecnologias e processos que promovam a máxima recuperação de matérias-primas.

Em termos sociais, transversalmente às várias fases da cadeia de valor, refere-se a importância de garantir a implementação de boas práticas de saúde e segurança no trabalho e a valorização da diversidade e inclusão. Numa perspetiva externa, realça-se a definição de práticas de responsabilidade social corporativa, por exemplo contribuindo para o desenvolvimento de projetos sociais através de voluntariado corporativo.

Em conclusão, a sustentabilidade na cadeia de valor dos óleos lubrificantes exige a colaboração entre todas as partes envolvidas, promovendo a integração cruzada de boas práticas ambientais e sociais ao nível de cada etapa da cadeia de valor, promovendo a expansão do valor gerado.

Referências:

[1] Eco Sapo (2023). Consumidores preocupados com a sustentabilidade aumentam. Preço continua a ser o principal entrave. Consultado em: https://eco.sapo.pt/2023/09/18/consumidores-preocupados-com-a-sustentabilidade-aumentam-preco-continua-a-ser-o-principal-entrave/

[2] STLE (2023). How lubricants, additives and manufacturing are going green. Consultado em: https://www.stle.org/files/TLTArchives/2023/07_July/Market_Trends.aspx

[3] Vincent Bouillon (2023). Everything you ever wanted to know about the biodegradability of lubricants and greases. Consultado em: https://www.iespm.fr/wp-content/uploads/2023/09/L176-Vincent-Bouillon-Biodegradability-of-lubircants-and-greases.pdf