Em foco – A eco-responsabilidade como uma tendência crescente na perspetiva dos condutores – Principais resultados do Estudo Condutores 2023 

A sustentabilidade na indústria automóvel é um fenómeno em crescimento, englobando vários setores e atividades de negócio que se relacionam, influenciando, assim, os seus resultados e impactes, incluindo a nível ambiental e económico.

Neste contexto, as análises regulares efetuadas à indústria automóvel são pertinentes para o seu retrato, permitindo uma visão geral do desempenho da indústria em vários níveis e dimensões. A dimensão do condutor é uma das dimensões com mais influência ao nível da promoção da sustentabilidade da indústria automóvel.

De acordo com o Estudo Condutores 2023, efetuado pela GiPA Portugal, de uma amostra de estudo de 2.009 condutores, atualmente, 75% dos condutores identificam-se como estando mais sensíveis ao termo da eco-responsabilidade, por oposição aos 3% que demonstram pouco ou nenhum interesse. [1]

De acordo com o mesmo estudo, quando se compara o interesse pela eco-responsabilidade com a escolha de soluções de manutenção de veículos que permitam um maior respeito pelo ambiente, verifica-se que 62% dos inquiridos demonstra interesse. Contudo, destaca-se ainda a posição de indiferença, face a estes tópicos, de cerca de 20% da amostra [1], a qual merece uma reflexão e aposta na componente de sensibilização junto dos clientes, por exemplo por parte dos produtores e das oficinas, podendo também envolver outros atores da cadeia de valor do setor automóvel; embora, atualmente, a comunicação de sustentabilidade por parte das marcas e oficinas de automóveis esteja mais visível para os consumidores:  41% dos inquiridos afirmaram ter reparado nesta aposta de comunicação por parte desses agentes. [1]

No seguimento do interesse demonstrado, também o comportamento dos clientes face à posse de critérios de escolha por reparadores que respeitem o ambiente tem assistido a uma transformação positiva, sendo que 14% dos condutores inquiridos afirmam que esse é um critério de absoluta importância, e 54% caminham para essa posição, afirmando a eventual importância desse critério. [1]

Desta forma, considerando as variáveis apresentadas, depreende-se que o crescimento do sentido de eco-responsabilidade, por parte dos condutores, está associado a um sentimento de proteção do ambiente que lhes é intrínseco, mas ao mesmo tempo, que tem vindo a ser fomentado pelos principais agentes da indústria, onde se destacam os espaços de manutenção automóvel, como sejam as oficinas.

As oficinas detêm um papel fundamental no âmbito das atividades de manutenção dos automóveis. Neste sentido, destaca-se a importância crescente do surgimento de novas opções de produtos e serviços de manutenção, no qual se incluem os óleos lubrificantes, que promovam um menor impacte no ambiente, atendendo aos critérios crescentes de sustentabilidade exigidos pelos clientes.

De seguida são apresentados outros resultados relevantes do referido estudo:

  • Evolução das matrículas desde 2002 (ligeiros de passageiros +4×4/SUV): antes da pandemia, as matrículas de carros novos registavam um maior número de registos (223.799 veículos em 2019), por comparação com os anos pós-pandemia que foram também afetados pelo surgimento da guerra na Ucrânia (146.637 veículos em 2021; 156.304 veículos em 2022).
  • Evolução das matrículas por tipo de energia: o número de veículos híbridos (PHEV e HEV) e 100% elétricos (BEV) continuam a crescer, embora a um ritmo inferior em relação a anos anteriores, muito provavelmente por consequência dos impactes e crises que se têm verificado como a Covid-19 e a guerra na Ucrânia:

  • Intenção de compra do próximo carro: não obstante face aos resultados anteriores, as intenções de compra de carro novo apresentam uma tendência inversa, sendo que das respostas registadas (2.009 condutores), 61% prefere carros que sejam movidos a gasolina ou diesel, e apenas 24% prefere a aquisição de veículos elétricos (PHEV, HEV ou BEV). Contudo, a lealdade por tipo de motor/combustível, quando comparada com os outros tipos de motor existentes, é maior para os proprietários de carros BEV, ou seja, 72% dos condutores que têm um carro BEV, compraria outro veículo do mesmo tipo.
  • Evolução do tipo de compra: considerando o contexto social e económico vivido nos últimos anos, a verificada tendência crescente de privilégio pela compra de carros usados em detrimento de carros novos, é também expectável. Em 2022, registou-se uma quota de aquisição de veículos usados de cerca de 65%, por contraste à quota de 35% de aquisição de veículos novos.
  • Orçamento de manutenção do condutor: dos condutores inquiridos, apenas 2% estão a pensar diminuir o orçamento de cuidado e manutenção com os respetivos veículos para 2023, 5% estão a pensar aumentar o orçamento de cuidado e manutenção com os respetivos veículos; 93% estão a pensar manter o valor despendido e; apenas 2% estão a pensar diminuir o orçamento de manutenção, sendo que a principal estratégia para reduzir o orçamento passa por recorrer a oficinas mais baratas.
  • Interesse em usar peças usadas e recondicionadas: a sustentabilidade do setor automóvel, em particular da atividade de negócio de reparações automóveis, pode medir-se, por exemplo, pela utilização de peças usadas, recondicionadas ou remanufaturadas, com garantia de que mantêm o seu bom desempenho. Neste sentido, no seguimento da sensibilidade e consciencialização crescente dos condutores para com a eco-responsabilidade, já se verificam níveis interessantes de pré-disposição para aquisição de algumas peças não novas.


  • “Do-It-Yourself” vs “Do-It-For-Me” (complexidade das operações): as várias operações de manutenção relacionadas com os óleos lubrificantes envolvem diferentes níveis de complexidade, nomeadamente: operações simples (como acrescentar óleo), operações semi-complexas (que considera a mudança de óleo) e operações complexas (por exemplo, com a mudança do filtro de óleo).

Por norma, as operações de menor grau de complexidade são passíveis de ser realizadas pelos meios próprios dos condutores (DIY – “do-it-yourself”). Não obstante, atualmente, verifica-se uma redução da quota de operações realizadas em modo DIY, por oposição às operações de manutenção realizadas nas oficinas ou outros locais prestadores desses serviços. Em 2022, as operações DIY registaram uma quota de 7%, e as operações por meio de outras entidades registaram uma quota de 93%.

  • Razões de entrada na oficina: as operações de manutenção preventiva, por norma, apresentam uma quota menor em relação às operações de manutenção curativa. As operações de manutenção preventiva incluem atividades como a revisão geral e a manutenção sazonal, entre outras. Por seu turno, as operações de manutenção curativa incluem operações como a troca de pneus, reparações relacionadas com a ocorrência de acidentes, ou outros problemas/avarias.

A manutenção do óleo é uma operação de manutenção preventiva, embora com relativa pouca expressão enquanto razão específica de entrada nas oficinas. Em 2022, a manutenção curativa representou cerca de 53% das entradas em oficinas, comparativamente com a manutenção preventiva que representou cerca de 47%.

Referências:

[1] GiPA Portugal – automotive aftermarket intelligence. (2023). Estudo Condutores 2023 – Apresentação